terça-feira, 20 de março de 2018

"Aqui, apesar do frevo, há moralidade”: a presença das mulheres no Bloco Carnavalesco Misto do Recife na década de 1920



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Resumo:
A cidade do Recife durante a década de 1920 passou por transformações que alteraram sua fisionomia, os comportamentos e as práticas de seus habitantes. A modernidade, que anseia o novo e refuta o obsoleto, invade o cotidiano da população, de modo a interferir até mesmo na festa carnavalesca. Nesse momento de transformação das práticas e reafirmação de tradições, nota-se, nos jornais do período, a emergência dos Blocos Carnavalescos Mistos, modalidade de agremiação carnavalesca que possui homens e mulheres em sua formação. Eles ganharam as ruas da cidade como uma alternativa e oposição ao carnaval tido como “perigoso” e “desregrado” das manifestações das camadas populares. Com o propósito de moralizar e ordenar as práticas carnavalescas, esses grupos se colocavam como modelo primoroso de como brincar o carnaval, que deveria ser seguido pelos demais grupos. Representados pelo que se considerava ser do âmbito da “ordem e elegância”, e praticando ações distintivas, os Blocos Carnavalescos Mistos tornaram-se uma maneira legitimada pela sociedade e pela família para a atuação das mulheres nas festas carnavalescas da cidade de forma vista como respeitosa e protegida da desonra. Ainda que sob os olhos vigilante das famílias, essas mulheres conseguiram ocupar lugares de destaque e, caminhando entre a obediência à rigidez dos padrões de moralidade e a inventividade, essas mulheres recriavam seus espaços de movimentação. A pesquisa tem como referencial teórico a obra de Michel de Certeau para a análise das práticas cotidianas, Roger Chartier para o entendimento das representações e, utiliza como método, a descrição densa do Clifford Geertz, que entende a análise das práticas culturais como interpretação das redes de sentido.