quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Clídio Nigro, o compositor de “Olinda, quero cantar”

Clídio Nigro

Para saber quem foi Clídio Nigro, o mais popular compositor de frevos de Olinda, em dois domingos conversei com os filhos Cleonice Nigro, Fernando Nigro e, por telefone, com Cláudia Nigro. A essas conversas acrescentei uma com o esposo de Cleonice, Jairo Correia Peixoto.

Entrevistar, ou melhor dizendo, conversar, é também muito aprender. E neste caso particular, para mim foi somente aprender. Espero que vocês tenham também descobertas semelhantes às que eu tive, como por exemplo: a existência de um Senado em Olinda, com direito à foto histórica dos senadores; o valor espantoso dos direitos autorais do frevo mais cantado em toda história, pois multidões de jovens gritam nas ladeiras e pulam de felicidade ao som de “Olinda, quero cantar”. E mais a cômica origem do frevo Bando de Conde.

Por último, mas já no começo, saibam deste fenômeno inédito, intrigante e curioso: um frevo criado por um compositor depois de falecido. Como é ?! Se duvidam, mantenham pelo menos a curiosidade em um minuto de dúvida. 

– Cleonice, quem foi Clídio Nigro?

– Clídio Nigro era um homem simples, músico, tocava vários instrumentos. Ele tocava piano, tocava bandolim, tocava violão, cavaquinho, pistom também tocava. Mas era um pai de família simples, escrivão do cartório de Olinda. Gostava muito de sentar ali, onde hoje é o Bar de Peneira, no Senado, que ele chamava O Senado de Olinda. Ele e os amigos dele para ficarem ali conversando. Olinda na época, na cidade alta, todos nos conhecíamos, porque eram famílias que nasceram ali, foram criadas ali, no sítio histórico. O miolo de Olinda era ali. Mas em época de carnaval, os amigos ficavam distanciados, porque uns pertenciam ao bloco do Guaiamum, outros ao Bloco de Batutas. Então eles eram amigos, mas no carnaval ficava cada um na sua.

– Então os grandes blocos do carnaval de Olinda não eram nem Elefante, nem Pitombeira.

Cleonice – Não. Eram Guaiamum na Vara, Batutas e Donzelinhos. Os três grandes clubes de Olinda, da época do meu pai. Todos os amigos do Senado, quando chegava o carnaval, se separavam. 

– Amigos do Senado? O que é isso, o Senado?

Cleonice – Conhece não? E o Senado não é lá na calçada de Peneira?!

Fernando – Da calçada onde hoje está o Bar de Peneira tem uma foto histórica, tem uma foto da calçada com os Senadores, que ficavam lá sentados. Essa foto tem na Bodega do Véio, com todos eles que participavam.

Cleonice – Ali, aquela calçada, era considerada por eles como o Senado de Olinda. Eles se reuniam pra conversar, trocar ideias, dizer as coisas deles e da cidade. Mas na época de carnaval ia cada um pros seus blocos.

– Quando é que Clídio Nigro nasceu pro carnaval?

Cleonice – Quando ele começou a compor pro carnaval? Para os blocos ele já compunha, porque tem, ó, Banho de Conde, que é da época do Guaiamum, do Batutas, ele já tinha muita música, já, da época do Bloco Guaiamum na Vara. Tem outras também com Lídio Macacão, que ele compunha. Ele tinha parceiros, Wilson Wanderley, que era advogado muito famoso, tanto que Banho de Conde é dele e de Wilson. Vieira.

“Banho de Conde

Vou formar a turma
Prá tomar banho na beira do mar
Vou ficar molhado
Eu vou dar água pelo carnaval
Vem padroeiro fiché
Que eu acendi o painel
Não mergulhei, mas me afoguei
Um banho de maré tomei."


- Como nasceu Banho de Conde? E o "padroeiro Fiché", quem era?

A esta altura, devemos chamar Jairo Correia Peixoto para esclarecer.

Jairo – “Banho de Conde” é uma expressão antiga. Significava “o que deu errado”. Batutas era feito por amigos de seu Clídio: Otoniel Mendes, o irmão dele, Evilásio Mendes... E tinha na cabeça de Batutas um senhor, que era inglês, que veio para o Brasil, e que comandava a Great Western, a antiga Rede Ferroviária Federal. Então inventaram um banho à fantasia, no Carmo, aqui em Olinda. O Carmo era uma balaustrada bem alta, o mar quebrava bravo, não tinha essa calmaria que tem hoje, com o dique, construído na década de 60. Então Batutas programou um “banho à fantasia”, e saiu de lá dos Milagres com a nau. Fizeram uma nauzinha, só que ao chegar na altura dos Milagres naufragou. Aí Wilson Wanderley olhou para aquilo e disse “olha só, Clídio, o banho à fantasia de Batutas em que deu...”. E Clídio respondeu “nada, vamos escrever uma letra pra esses meninos”.

– Mas o que era o”banho à fantasia”?

Jairo – Você se fantasiava com papel, botava uma orquestra pra tocar frevo, e depois ia- se embora tomar banho na praia. Pulava com fantasia e tudo. Era banho à fantasia mesmo... E nesse dia não teve banho à fantasia, porque o barco virou, afundou lá nos Milagres, não chegou no Carmo pro banho. Aí eles escreveram: “Vou formar a turma pra tomar banho na beira do mar. Vou ficar molhado, mas vou dar água em pleno carnaval...”. “Dar água” era outra expressão que significava que falhou. “Vem, padroeiro Fiché”

– E o Fiché era...?

Jairo – O Fiché era o que comandava a Great Western. É seu Fisher, o inglês. Mas fizeram a corruptela para Fiché. “Vem, padroeiro Fiché”. Por que padroeiro Fiché? Pelo seguinte: Batutas, numa das festas de São João, quis fazer uma homenagem a Fisher. Você sabe que tem o São João do carneirinho, não tem? Pois bem, imitaram a lapinha de fim de ano, mas na hora em que caiu a lapinha, em vez de aparecer a imagem de São João, apareceu a foto de Fisher. Trocaram o santo pelo poderoso da ocasião. Aí Wilson Wanderley e seu Clídio botaram “vem poderoso Fiché”, por causa disso. Muita gente canta sem saber por quê.

–Eu li que certa vez passava o Elefante, e o povo todo cantando “Olinda, quero cantar...”, e Chico Buarque, vendo aquilo em Olinda, disse: “Isto é que é o verdadeiro compositor popular. Olha, o povo inteiro cantando a música. Este é que é o compositor popular”. Jairo,
você se lembra das circunstâncias em que foi criado o “Olinda, quero cantar”?

Jairo – Ah, Elefante tinha um hino que não era um hino, era um desadouro. (Cantarola) “É-lé-fante, é-lé-fante, é, é grande, é o maior da nossa geração...”. Isso era o hino de Elefante. Cláudio Mirula, filho mais velho de Clídio, disse a ele: “Pai, faz um hino pra Elefante”. Pitombeira já tinha o dele, “bate-bate com doce eu também quero...”. Clídio tinha composto na época uma música sobre Olinda, Olinda numero1, que era a que cantava a Pitombeira: “Olinda, estou de novo com você...”. Aí já tinha a letra pronta. Chamou Clóvis Vieira e disse: “Clovis, o meu filho tá pedindo um hino pra Elefante. Vamos fazer umas modificações nessa música”. Pronto. Aí modificaram aquela música que era para Olinda, e fizeram o Hino de Elefante.

– Me situe por favor. Qual era “aquela música” que ele modificou?

Jairo – Não existe mais. Ele modificou pra fazer o Hino de Elefante. E a outra esqueceu. Deixou pra lá. Surgiu no lugar o Hino de Elefante.


“Ao som dos clarins de Momo
O povo aclama com todo ardor
O Elefante exaltando as suas tradições
E também seu esplendor
Olinda, este meu canto
Foi inspirado em teu louvor
Entre confetes e serpentinas
Venho te oferecer
Com alegria o meu amor

Olinda! Quero cantar a ti esta canção
Teus coqueirais, o teu sol, o teu mar
Faz vibrar meu coração, de amor a sonhar
Em Olinda sem igual
Salve o teu Carnaval!”

– Mas foi de imediato um sucesso?

Jairo – O sucesso foi sendo construído ao longo do tempo. Porque o sucesso da época era o Hino de Pitombeira. Não devemos esquecer que Elefante nasceu de uma dissidência de Pitombeira.

Mas voltemos a Cleonice Nigro. 

- Eu soube de uma história muito interessante: quando Olinda recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, o que houve com a senhora? 

Cleonice – Logo depois que Olinda recebeu o título de Patrimônio da Humanidade, na época do carnaval, chegando o carnaval, eu tava em casa e aquilo sempre fazia assim: “pega o papel e lápis”. Aí eu peguei papel e lápis. Aí ele mandou.

(Cleonice começa a cantar, boa cantora que é, um frevo-canção póstumo de Clídio Nigro, que teria guiado sua mão em fevereiro de 1983:

“A saudade dói, a saudade dói
Neste clima quente
Olinda que mexe com a gente
E o tempo não destrói.
O carnaval vai chegando
O povo se balançando
Festejando sua vitória
Festejando sua vitória
No seu festival de glória”.

E solfeja os acordes finais do que seria o frevo póstumo: “pararará parantantan, pararará parantantan, pararan, parará, parará. Pan…”.)

E retoma: - Vem assim, ó, vem assim na mente. Música e letra ao mesmo tempo. 

– A senhora tem isso como uma mensagem dele?

Cleonice – Claro, ele mandou. Foi a primeira.

– E a senhora compõe fora disso, sem mensagem?

Cleonice – Não, não. Foi só através dele mesmo. Porque a minha sintonia com meu pai era muito grandiosa. Tanto que ele gostava de música e eu gosto. Eu canto. Cantar é amor, é isso que eu faço.

– Qual o título desse frevo que ele mandou?

Cleonice – “Exaltação a Olinda”. Ele botou título e tudo. Aí o maestro Nunes, por intuição dele, eu fui lá e ele fez o arranjo. Eu tenho o arranjo desse frevo em casa. Mas jamais gravei, preciso até registrar ele. Eu vou ter que registrar em cartório essa música.

– Pode ser o primeiro frevo póstumo de Olinda... Mas Clídio Nigro compunha em que instrumento? Ao piano, violão, ou bandolim?.

Cleonice – Não, não, não. Ele compunha como eu componho. Com um papel e um lápis. Ele tinha a música na alma. Tudo de ouvido. Quem passava, quem fazia a partitura era o maestro Nunes, todinha. Mas o meu pai entendia, porque cantava no coral, mas o que eu disse pra você, “papel e lápis!”, eu via ele também fazer isso. Em qualquer papel, o que estivesse no alcance na hora. E vinha me mostrar. “Oi, mas tá muito boa”, eu dizia, entendeu? E como eu tinha com ele essa conexão, eu não esquecia nadinha.

- Eu quero agora destacar: o esquecimento que parece existir hoje em torno da pessoa e do compositor Clídio Nigro; os momentos marcantes da sua vida como carnavalesco, que dizem até que ele era carnavalesco sem ser folião... 

Cleonice – Isso é verdade. Ele estava presente em todos os blocos. Saísse Pitombeira, ele tava lá. Saísse Elefante, tava lá. Mas não vivia pulando no carnaval não. Mas como ele mesmo se retratou, em uma mensagem que ele mandou pra mim, depois de falecido:

“Tudo não passou de um sonho o meu caminhar na vida. Caminhos tão serenos, numa existência tão querida. Encontro a realidade e vivo novos sonhos, sublimes e tão lindos, quem me dera nova vida”. Então ele retratou a vida dele assim, dessa forma.

– Então, a que se deve este esquecimento de Clídio Nigro hoje? O seu frevo máximo aparece, mas ele não.

Cleonice – Olha, é a preservação cultural, que não existe em Olinda. As pessoas esquecem (ouve-se um canto de pássaro no jardim) muito quem realmente contribuiu para abrilhantar (de novo, o canto do pássaro) a beleza cultural da cidade. (O pássaro, novamente, cresce um concerto no jardim.) Esquecem.

– Quais são os principais frevos de Clídio Nigro, além de Banho de Conde e Olinda número 2, que é o hino de Elefante?

Cleonice – Ele tem Vassourinhas, Regresso, também o Regresso do Elefante, que é muito bonito e pouco se toca, e outras que no momento eu não estou assim me recordando. Mas sei que essas existem e ficam à parte, que não foram tocadas. As que mais se evidenciam são estas: Olinda número 1, Olinda número 2 e Banho de Conde. E tem a de Marim dos Caetés também, esqueci de falar. Marim dos Caetés também foi uma dissidência da Pitombeira. Ele também tinha uma música referente a Olinda, com Marim dos Caetés.

– Eu estava pesquisando e vi que no Hino de Elefante, o “Olinda, quero cantar”, Clídio Nigro compôs em parceria com Clóvis Vieira. Mas Clóvis Vieira era surdo. Como é que foi essa história?

Cleonice – Mas existe algum obstáculo? Existe não. Vem na mente. Ele escreve... o corpo físico não ouve, mas o espírito ouve, tá ali.

– Mas me diga uma coisa: nesse frevo hino de Olinda, a melodia é de Nigro, ou é a letra, ou é misturado?

Cleonice – Não, a letra foi de pai, a letra é de pai. Agora, a melodia é dos dois juntos. Clóvis era surdo, mas não era totalmente surdo não. Ele não era surdo de tudo, tudo não. Ele tinha dificuldade de audição. Mas não era surdo total, entendeu? Mas pra isso não é obstáculo não, viu?

– Clídio Nigro é um compositor de sucesso, porque o sucesso é isto: todos os anos ele é tocado e cantado. O que foi que rendeu de direitos autorais?

Cleonice – Os direitos autorais são um negócio muito complicado, porque não tem como fiscalizar. Mas ele tinha, e tanto que nos deixou essa herança. Ele é cadastrado como compositor e nós, depois que ele morreu, nós temos na Ordem dos Músicos do Brasil, nós recebemos, depois do carnaval. Sai um dinheirinho, dividido por 10... Para o que toca em Olinda, nas ladeiras, em todo Pernambuco, é fraco, fraco. A música do meu pai não só toca no carnaval não.

– A senhora pode dizer o valor do último direito autoral?

Cleonice – Dois mil e setecentos reais para 1 ano. 270 pra cada um dos filhos. É ridículo, mediante o que se toca.

Fernando – Pra gente mesmo, o que mais gratifica a gente é ver tocar a música dele. 

– Ele era reconhecido pelos blocos?

Cleonice – Ah, era, reconhecido e reverenciado por todos os blocos. Todo o mundo passava lá, na frente da casa da gente, nos Quatro Cantos. E quando ele esteve doente, em 82, quando já estava perto dele partir, e os blocos todos passaram lá, e reverenciaram ele. Sabiam que ele estava doente, todos os blocos passavam. Ele ficava na janela e os blocos passavam, estandarte, cumprimentavam, chega as lágrimas corriam dos olhos dele.


Os “senadores”:

À esquerda de quem olha a foto, Clídio Nigro, apoiado em um joelho, todo de branco, tendo ao Iado Isnar Colombo, de terno, o fundador do Homem da Meia-Noite. E mais estes “senadores”, segundo anotações de Clídio: José Pinheiro, Tiago de Barros Leite, (diabalei), Anídio Português, Rui Moreira, Neco Bezerra, Salvador (Dodô) Militão, Milo Braga, Alex Caldas (compositor do Hino da Pitombeira), Mauro Guerra, Arlindo Siqueira (avô do vereador Arlindo), Lúcio Aguiar, Polinice Xavier, Antonio (Tonho) Nigro, irmão do Clídio, Alcides Galhardo, Dino Advíncola, Eugênio Cravino, Reginaldo Toledo, Francisco Batista Bezerra, Wilson Wanderley (parceiro de Clídio em Banho de Conde), Antonio Falcão (“pão doce”), Nestor (barbeiro), Nildo Ramos, João de Matos 

Foto da década de 50. O lugar do Senado era na calçada em frente da antiga loja de tecidos de Edgar Rangel. Hoje, fica na calçada do atual Bar de Peneira, nos Quatro Cantos, Olinda. Os senadores discutiam política, cultura, religião, esportes, carnaval, e mulheres. “Só se ouviam as gargalhadas”, nos contou a sua filha Cláudia Nigro.



Por Urariano Mota

Fonte:https://jornalggn.com.br/blog/urariano-mota/clidio-nigro-o-compositor-de-%E2%80%9Colinda-quero-cantar%E2%80%9D

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Sivuca – Forró e Frevo -Vol.4 [1984]




01. Tributo a Nelson Ferreira (Sivuca)
02. Santa Cruz do Capibaribe (Oswaldinho do Acordeon)
03. Feira de Itabaiana (Sivuca / Glória Gadelha)
04. Festa do caju (Marcelo Paiva / Sando)
05. Roseira do norte (Pedro Sertanejo / Zé Gonzaga)
06. Quadrilha do bacurau (Sivuca / Afonso Gadelha)
07. Caxangá (Luiz Gonzaga)
08. Vale do Rio do Peixe (Sivuca / Glória Gadelha)
09. Coração (Felinho)
10. São João de Sapoti (Sivuca / Glória Gadelha)

Sivuca - Forró e Frevo - Vol.2 [1982]




01. Picadinho (Artur Gabriel)
02. Capoeira poeira (Sivuca / Glória Gadelha)
03. Forró em Santa Luzia (Sivuca / Glória Gadelha)
04. Come e dorme (Nelson Ferreira)
05. Furiosa de Quipapá (Sivuca / Glória Gadelha)
06. Xanana (Sivuca / Glória Gadelha)
07. Nas quebradas (Hermeto Pascoal)
08. Tás cochilando Zé (Sivuca / Glória Gadelha)
09. Alagamar (Sivuca / Glória Gadelha)
10. Guerra das andorinhas (Sivuca / Glória Gadelha / Afonso Gadelha)

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Songbook de Frevos (Vol. I) - Luiz Guimarães




"Ao idealizarmos este primeiro "Songbook de Frevos", tivemos como principal objetivo registrar na memória cultural de Pernambuco parte do que de melhor existe em composições que abrilhantaram as melhores épocas do nosso carnaval, representando através de suas linhas melódicas, harmônicas e poéticas, aquilo que se constitui a essência do nosso ritmo maior - o Frevo.

Inegavelmente, o trabalho foi árduo, verdadeiro desafio, pois compilar todas essas músicas, procurando conferir espaço para os inúmeros talentos que temos não foi nada fácil considerando-se, também, a quantidade de belas composições sendo, contudo, a etapa mais difícil a escolha daquelas que iriam constar deste primeiro volume.

Procuramos consolidar neste Songbook frevos de n/a, bloco e canção e, por conta de dificuldades que tivemos com algumas editoras, renomados compositores não estão inseridos nesta primeira edição."

Recife, 18 de outubro de 1998

Luiz Guimarães Gomes de Sá

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Relembrando o talento de Miro de Oliveira

Miro de Oliveira no sax (Fotos: Acervo da família)

São poucos os pernambucanos de RG ilustre que conseguem mostrar seu talento, como o maestro e compositor Miro de Oliveira. De acordo com sua certidão de nascimento ele é José Hermírio de Oliveira, que nasceu na cidade de Gameleira, em Pernambuco, no dia 21 de maio de 1919 e faleceu no Recife no dia 31 de dezembro de 1991. Ele entrou para a história da Musica Popular Brasileira como compositor de frevo de rua, mas compôs também três premiados maracatus. Miro de Oliveira era tenente da Polícia Militar de Pernambuco onde chegou a ser seu regente por muito tempo.


Miro de Oliveira na Orquestra Bacardi

De acordo com historiadora Maura de Almeida Martins Lima, Miro herdou a veia musical do seu pai, o clarinetista José Severino de Oliveira. Como a família foi morar no Cabo de Santo Agostinho, Miro de Oliveira, incursionou como saxofonista ainda jovem, naquela cidade, destacando-se como o primeiro Saxofone Alto na Banda Filarmônica XV de Novembro Cabense. Atuou no programa Quarto de Hora, na Rádio Clube de Pernambuco, sob a direção do maestro Nelson Ferreira.

Mira de Oliveira numa festa da Bacardi e os bloco Amantes das Flores

Miro de Oliveira também foi regente de várias orquestras entre elas a Jazz Tupan (Circulo Militar do Recife), Bacardi, e Capíbaribe do Recife. Sem esquecer, claro da Banda de Musica da PMPE. Mauralembra que na década de 50, por ocasião do centenário do Conde Matarazzo participou dos festejos em São Paulo, divulgando o nosso frevo. Em Fortaleza, no Ceará, participou da inauguração do Banco do Nordeste, sendo o saxofonista da Orquestra de Mário Mateus.


Miro de Oliveira e a Orquestra 11 de Setembro de Ribeirão

Quando executou uma variação do Frevo Vassourinhas,leia-se Mathias da Rocha e Joana , levou a plateia à loucura, e nela estava o então Ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen. Assim como os grandes mestres, Sivuca e Luperce Miranda, dirigiu o conjunto regional da Rádio Jornal do Commercio. Marta Martins Lima lembra que ele foi professor de técnicas, formador e diretor do Coral da Escola Apolônio Sales, no bairro do Ibura.


Miro e o Coral da Escola Apolonio Sales

Miro de Oliveira tem na discografia os frevos Positivo, Faca de Ponta, Tem Pimenta no Frevo, Fabuloso, Show de Frevo, Estrambólico, Cuspindo Fogo, É de Arrepiar, Super Frevo, Fantástico, Brincando com o Frevo, Novo Recife, Carrapeta, Frevo Diferente, Pinga-Pinga, Chamego Bom, Frevo da Gota, Eita Frevo Macho!, Clarineta de Momo, Frevo Só Assim, Hugo Martins Patrono dos Compositores, Carnaval em Porto Calvo e Catatau.


Miro de Oliveira com a Banda PMPE, em Ribeirão

Foi casado com Zelda Escobar de Oliveira, também já falecida, e pai de cinco homens e uma mulher. Para o maestro e compositor dar limites aos filhos e não protegê-los de frustrações foi uma das maiores heranças que deixou para eles. Para Miro prepará-los para enfrentar as dificuldades da vida que estão por vir, foi uma das suas metas para a família. Apesar de completamente esquecido, pelos que fazem o Carnaval do Recife, Miro de Oliveira, sua grandeza é maior do que a obscuridade que o Recife quer lhe impor.

Miro de Oliveira recebendo um troféu do comandante geral da PMPE, coronel Silvio Cahu

A historiadora Maura Lima encerra seu trabalho sobre este grande músico, desta forma: “Você se foi Maestro, estais agora regendo uma filarmônica no céu. Todavia, um grande artista sempre deixa o seu legado e cuja família tem dado continuidade via os filhos e netos, Netinho voz e violão, Amarílio voz e violão, Black Escobar e Sandro Mitchel Carneval de Oliveira, onde foram encontradas informações para elaboração desta pesquisa e conteúdos que serviram, servem e servirão para auxiliar estudiosos da cultura do nosso país”.

Miro de Oliveira regente da Diamante Jazz


domingo, 6 de agosto de 2017

Dossiê IPHAN - Frevo



DOWNLOAD: Dossiê IPHAN - Frevo


"A Coleção Dossiê dos Bens Culturais Registrados destina-se a tornar amplamente conhecidos e valorizados como Patrimônio Cultural do Brasil os bens de natureza imaterial Registrados pelo Iphan.[...] O 14º volume desta coleção apresenta o Registro do Frevo, inscrito no Livro das Formas de Expressão. O bem é considerado em todas as suas dimensões – música, dança e poesia –, e nas modalidades em que ele se subdivide – frevo de rua, frevo de bloco e frevo-canção, adquirindo uma configuração única"

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Partitura - Recordando Levino Ferreira

Esta partitura foi editada pela aluna Marília Costa Silva, da Orquestra de Sopros de Pindoretama, que participou do Curso de Editoração de Partituras Finale-2010, promovido pelo Ponto de Cultura Amigos da Arte – Pindoretama em parceria com a Secretaria da Cultura do Estado.

DOWNLOAD: Recordando Levino Ferreira - Zumba

domingo, 4 de junho de 2017

Musica Popular do Nordeste - Frevo (1972) - Discos Marcus Pereira

Marcus Pereira, o ‘guardião’ da música popular e regional

Marcus Pereira não compunha, não tocava instrumentos e não cantava, mas foi um personagem importante para a música brasileira em uma de suas décadas mais frutíferas: a de 1970. Para muitos, era um empresário quixotesco que quis transformar a produção musical regional brasileira em sucesso de mercado e que, com a mesma disposição, atacava as grandes gravadoras e os hits de televisão. Na lembrança dos amigos, sobressai a imagem de um sujeito de coração grande, capaz de empregar gente ameaçada pelo regime militar e “adotar” artistas que considerava talentosos. Todas essas versões se misturam numa personalidade heterogênea, motor de uma empresa que lançou alguns dos mais interessantes discos brasileiros entre 1974 e 1981. De Cartola à Banda de Pífanos de Caruaru, de Ernesto Nazareth (pelas mãos do pianista Arthur Moreira Lima) a Paulo Vanzolini, do Quinteto Armorial a Elomar, a Discos Marcus Pereira abriu espaço para compositores e intérpretes que transbordavam em criatividade, mas encontravam pouco espaço nos escaninhos das majors.

Advogado de formação, Marcus migrou logo cedo para a área de publicidade e abriu sua própria agência na década de 1960. Foi lá que começou a flertar com a produção musical: passou a fazer discos para dar como brinde aos clientes. Mais tarde, em 1973, apostou todas as fichas em uma gravadora independente. Aquele ano foi para arrumar a casa, e apenas cinco discos foram lançados comercialmente (todos feitos como brindes nos anos anteriores: os quatro volumes da coleção “Música popular do Nordeste” e “Brasil, flauta, cavaquinho e violão”). Em 1974, ela apareceu de fato para o mundo, lançando mais de 20 discos em 12 meses. A Discos Marcus Pereira não levava o nome do dono à toa: a empresa vivia, de fato, em função de seus humores e sonhos.

Sonhos que deram origem a discos pioneiros. A robusta coleção “Música Popular do Brasil”, que começou pelo Nordeste e depois teve mais 12 discos destinados às outras regiões, é um exemplo. A aposta em Cartola é outro, mas guarda um detalhe curioso: relutante no primeiro momento, o empresário acabou convencido por seu sócio Aluizio Falcão e pelo produtor musical Pelão a fazer o disco, que acabou sendo saudado como um dos melhores de 1974. Com cerca de 140 lançamentos em nove anos, o catálogo impressiona em quantidade e variedade. E, para defendê-lo em suas convicções culturais e empresariais, Marcus se armou com tudo que podia, lutando contra um mercado já dominado e elegendo inimigos complicados.

Com convicções fomentadas por movimentos da época, como o Centro Popular de Cultura (CPC), por polêmicas como as da MPB contra as guitarras elétricas e por discussões folcloristas, ele ficou ainda mais determinado a se dedicar apenas ao mercado fonográfico após uma viagem a Recife, em 1963, quando conheceu o frevo de perto. Para Marcus, a “legítima” música brasileira devia fazer parte dos números grandiosos daquela indústria.

Enquanto isso, o trabalho com publicidade o desinteressava cada vez mais. No livro sobre O Jogral, bar “de resistência cultural” que frequentava em São Paulo, escreveu: “É difícil gostar de ser cúmplice de interesses que vivem de estimular, ao delírio, o consumo numa sociedade onde apenas uma minoria tem condições de consumir”.

Quando a coleção do Nordeste ganhou os prêmios Noel Rosa (da crítica paulista) e Estácio de Sá (do Museu da Imagem e do Som carioca), ele teve certeza de que a mudança de rumos era acertada. Anos mais tarde, no lançamento da coleção Centro-Oeste/Sudeste, escreveu no encarte: “Essa repercussão, na verdade, deve-se à beleza e comunicatividade de uma riqueza enorme que estava enterrada, neste país de tantas riquezas enterradas, e da qual nós colhemos pequena amostra, que é a cultura de nosso povo”. Os discos da coleção “Música Popular do Brasil” alternavam gravações documentais com as de artistas consagrados, como Elis Regina (Sul) e Martinho da Vila (Sudeste/Centro-Oeste). Este último, aliás, deixou o exército para se dedicar apenas ao samba graças ao estímulo de Pereira.

Ao apostar todas as fichas em discos “de conceito”, sem ter um elenco fixo ou coletâneas de sucesso, Marcus Pereira tentou criar um nicho de mercado, mas logo viu que não seria fácil. Ao longo dos anos seguintes, começou a ter problemas de distribuição e nas parcerias com gravadoras de maior porte para fabricação dos vinis. Seus esforços, em geral louvados pela imprensa, muitas vezes eram também questionados em relação a práticas paternalistas — e ele não se furtava em entrar em discussões por meio dos jornais. Aos poucos, as dívidas foram aumentando e saindo do controle. Além disso, Marcus enfrentava problemas pessoais. Em 1981, depois de voltar de uma viagem de férias, deu fim à vida com um tiro.

Em 1982, a Discos Marcus Pereira encerrou suas atividades. O catálogo foi absorvido pela Copacabana, empresa que também não resistiria muito tempo, passando o material em seguida para a ABW, que relançou “Música Popular do Brasil” (em 1994), entre outros, em CD (tiragens logo esgotadas). Hoje o acervo pertence à EMI, que por sua vez foi comprada por um consórcio liderado pela Sony.

A gravadora foi uma das precursoras na busca da “independência” fonográfica no Brasil — ainda que esse termo ainda não fosse usado. Nos anos 1980, os mercados internacionais começam a atentar mais para as músicas locais. O termo world music, criado no fim da década, passou a reunir todo tipo de canção folclórica ou étnica. Quatro décadas depois do início da aventura de Pereira, se o que ecoa de seu discurso pode soar um tanto datado para alguns, o impacto dos discos que lançou segue reverberando nos ouvidos das novas gerações.

Por Helena Aragão (20/12/2014)


Fonte: https://oglobo.globo.com/cultura/livros/marcus-pereira-guardiao-da-musica-popular-regional-14879049


Baixe a DISCOGRAFIA da Discos Marcus Pereira AQUI.



DOWNLOAD: Frevo (1972) - Discos Marcus Pereira

Faixas:
01 - Saudade
02 - De Chapéu de Sol Aberto
03 - Um Sonho que Durou Três Dias
04 - Recife
05 - Trio Elétrico
06 - Tubarão na Onda
07 - Batendo Biela
08 - Ai Vem os Palhaços
09 - Evocação Nº1
10 - Hino do Batutas de São José
11 - Valores do Passado

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Spok Frevo Orquestra - Frevo Sanfonado (2015)

Desavisados podem supor que Frevo Sanfonado, o terceiro disco de estúdio da Spokfrevo Orquestra, seja forró, por causa da sanfona, ou uma inovação introduzida na instrumentação do frevo. Nem um, nem outro. Há pelo menos dez anos, nos concursos de música carnavalescas realizados no Recife, sanfona, flauta e guitarras tornaram-se instrumentos solo em frevos instrumentais. O sanfoneiro Beto Hortiz, o flautista César Michiles e o guitarrista Luciano Magno forma premiados com frevos de rua compostos para seus respectivos instrumentos.
Quase seis décadas atrás, o frevo já figurava entre os ritmos embutidos no coletivo “forró”. Sobretudo no anos 60. Os sanfoneiros, e tocadores de oito baixos, costumavam estampar frevos no repertório de seus discos. Já em seu pioneiro LP de estreia, Oito Baixos (1957), Gerson Filho toca Frevo Maluco (dele e dos Irmãos Orlando). Lançados entre 1961 e 1963, os três primeiros LPs de Abdias outra lenda dos oito baixos, trazem, cada qual, uma faixa de frevo.
O maestro Spok retoma esta pratica meio esquecida com a SFO gravando uma dúzia de composições, a maioria assinadas por sanfoneiros. Uma seleção abrangente que vai de Sivuca (que gravou, entre 1980 e 1984, a série Forró e Frevo) a Gennaro (ex-Trio Nordestino), passando pelo Mestre Camarão (falecido enquanto este disco era gravado), o gaúcho Renato Borghetti, o paulista Toninho Ferragutti, o jovem cearense Nonato Lima, entre outros.
O que diferencia a música de Frevo Sanfonado, dos frevos gravados com sanfona, é que ela se incorpora à orquestra como mais um elemento, rachando solos com sax, trompete ou trombone, e mesmo com outra sanfona. Em De Cazadeiro ao Recife, o sanfoneiro Vitor Gonçalves (autor da música), e o contrabaixista de Hélio Silva são os solistas. Em Sax Sanfona, Gennaro dialoga com o sax do maestro Spok. Enquanto Frevo Sanfonado (Sivuca), tem Dudu do Acordeom e Johnanthan Malaquias compartilhando os holofotes com o sax de Rafael Carneiro, e o trombone de Thomas de Lima.
O disco tem 14 convidados, boa parte deles de sanfoneiros, enquanto apenas uma das composições é de um integrante da SFO, Maluvida, do guitarrista Renato Bandeira, frevo lançado, em 2013, no disco Renato Bandeira & Som de Madeira (com a SpokFrevo Orquestra).
Obviamente, o frevo com sanfona é diferente do executado por uma orquestra tradicional. Aqui esta diferença é minimizada pelos arranjos que aproximam o acordeom dos naipes da SFO. São vários arranjadores. O maestro Clóvis Pereira, um dos maiores da música brasileira, por exemplo, assina o arranjo de Que Saudades de Seu Domingos, de Beto Hortiz.
O maestro Spok encarrega-se de três arranjos, e os demais foram distribuídos por músicos como Marcos FM (a citada Sax Sanfona, de Gennaro e Frevo pra Ela, de Nonato Lima), Nilson Lopes (Sandro no Frevo, de Camarão, com participação dos sanfoneiros, Lulinha e Meninão) e Frevaricação (Renato Borghetti) , ou Adail Fernandes (Bipolar, de Toninho Ferragutti).
Todas as faixas trazem a marca registrada da SFO, ou seja, abertura para solos e improvisos de seus integrantes, em diálogo com os sanfoneiros. Produzido pelo maestro Spok e o saxofonista Gilberto Pontes, Frevo Sanfonado, foi gravado no Estúdio Carranca, no Recife, com produção executiva da Jaraguá Produções.




Faixas:
01-De Cazadero ao Recife (Part. Esp. Vitor Gonçalves)
02-Sax Sanfona (Part. Esp. Genaro)
03-Sandro No Frevo (Part. Esp. Lulinha e Meninão)
04-Frevanca (Part. Esp. Chico Chagas)
05-Bipolar (Part. Esp. Toninho Ferragutti)
06-Saudade De Seu Domingos! (Part. Esp. Beto Hortis)
07-Frevaricação (Part. Esp. Renato Borghetti)
08-Frevo pra ela (Part. Esp. Nonato Lima)
09-Maluvida (Part. Esp. Renato Bandeira)

sábado, 27 de maio de 2017

Severino Araújo - A Tabajara no Frevo (1956)



Severino Araújo de Oliveira (Limoeiro PE 1917 - Rio de Janeiro RJ 2012). Clarinetista, compositor, arranjador e maestro. Severino recebe os primeiros ensinamentos musicais de seu pai, o arranjador, mestre de banda José Severino de Araújo, conhecido como Mestre Sazuzinha, de quem passa a ser assistente com apenas 8 anos. Aos 12, começa a tocar clarinete. Quatro anos depois, muda-se com sua família para Ingá, na Paraíba, e começa a escrever arranjos para a banda local. Em 1936, é contratado para ser o primeiro clarinetista da banda da Polícia Militar de João Pessoa. No mesmo ano, entra para a Orquestra Tabajara, formada em 1934. Até 1938, a orquestra é regida pelo pianista Luna Freire, que morre e é substituído por Severino, então com apenas 21 anos de idade. Como novo comandante, decide levar seus irmãos para a banda: Zé Bodega e Jaime (no saxofone), Manuel (trombone) e Plínio (bateria). Cinco anos depois, é convocado a servir o Exército, mudando-se para Aldeia (PE). Naquele período de um ano, compõe Um Chorinho em Aldeia, regravada posteriormente por diversos músicos. Em 1945, o maestro e a Orquestra Tabajara mudam-se para o Rio de Janeiro, contratados pela Rádio Tupi. Lá assinam contrato com a gravadora Continental, pela qual gravam dois discos de estreia. O primeiro 78 rpm traz Um Chorinho em Aldeia, de um lado, e Onde o Céu Azuk É Mais Azul (João de Barro, Alcir Pires Vermelho e Alberto Ribeiro). O segundo, também de 1945, tem o registro daquele que se torna o tema mais famoso composto por Severino em toda sua carreira, o choro "Espinha de Bacalhau". No ano seguinte, o maestro e a orquestra mantêm alta produtividade, lançando seis discos. Ainda em 1946, gravam Rhapsody in Blue, de George Gershwin, em ritmo de samba, e, em 1947, Um Chorinho pra Você, outro sucesso do maestro.

Com lançamentos fonográficos constantes na passagem da década de 1940 para a de 1950, em 1941, Severino e a orquestra fazem uma série de apresentações por salões e cassinos brasileiros. Na agenda, eventos importantes, como a inauguração da TV Tupi, em 1951, em show em que a Tabajara toca ao lado da orquestra do trombonista americano Tommy Dorsey. No ano seguinte, em viagem com o cantor Jamelão, Severino e os músicos se apresentam em Paris. Após o sucesso, ele e outros músicos decidem permanecer em Paris por um ano. Em 1954, termina o contrato com a Rádio Tupi, assinando com a Mayrink Veiga na sequência. Na década de 1960, o maestro e sua orquestra são contratados pela Rádio Nacional, onde permanecem por dois anos. Em 1975, de volta à Continental, os músicos lançam a coletânea "Severino Araújo e Sua Orquestra Tabajara". Nas décadas de 1980 e 1990, a orquestra mantém suas atividades com shows e tem os seguintes lançamentos: "Orquestra Tabajara de Severino Araújo" e "Anos Dourados". Nos anos 2000, Severino e seu grupo lançam os álbuns "Severino Araújo e sua Orquestra Tabajara" e "A Tabajara no Frevo". Com mais de 70 anos de atuação, a Orquestra Tabajara lança mais de 100 discos, entre LPs e os de 78 rpm. Em 2007, com um problema na perna, Severino passa o comando da orquestra para seu irmão, Jaime Araújo. Em agosto de 2012, o clarinetista morre no Rio por falência múltipla dos órgãos.




Faixas:
1. Zé Pereira (Tradicional / Adpt. Severino Araújo) 
    78rpm: 16.131 / 1949
2. Último Dia (Levino Ferreira) 
    78rpm: 16.321 / 1951
3. Tudo Dança (Geraldo Medeiros) 
    78rpm: 16.321 / 1951
4. A Tabajara no Frevo (Severino Araújo) 
    78rpm: 16.320 / 1951
5. Vassourinhas (Mathias da Rocha / Joana Batista Ramos) 
    78rpm: 16.120 / 1949
6. Relembrando o Norte (Severino Araújo) 
    78rpm: 16.490 / 1952
7. Assim É Espeto (Edvaldo Pessoa) 
    78rpm: 16.131 / 1949
8. Zé Carioca no Frevo (Geraldo Medeiros) 
    78rpm: 16.120 / 1949

domingo, 29 de janeiro de 2017

C.C.M. Bola de Ouro - Homenageado do Carnaval (2015)


DOWNLOAD: C.C.M. Bola de Ouro - Homenageado do Carnaval (2015)

01. Bola, Centenária de Ouro (Walmir Chagas, Seu Kayto e Roberval Ramalho) – Int. Walmir Chagas
02. Bola, Centenária de Ouro (Walmir Chagas, Seu Kayto e Roberval Ramalho) – Int. Coral
03. Minha Bola de Ouro (Zumba)
04. Regresso da Bola (Fincão)
05. Bola, Centenária de Ouro (Walmir Chagas, Seu Kayto e Roberval Ramalho) – Instrumental

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Beto do Bandolim - Folia das Cordas [2012]



Download: Beto do Bandolim - Folia das Cordas [2012]

PS. Não conseguimos achar o título das faixas. Se alguém tiver, por favor, deixe a lista nos comentários.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Orquestra do Maestro Oséas - Volume II



DOWNLOAD: Orquestra do Maestro Oséas - Volume II

01 Amparo no Frevo
02 Cariri
03 Ceroula
04 Elefante
05 Frevo nº 6
06 Frevo no Bairro do Recife
07 John Travolta
08 Lá Reine
09 Lampião
10 Menino da Tarde
11 Mistura Filho
12 Música Mulheres e Flores
13 O Baralho
14 Olinda frevo e Folia
15 Tabajara no Frevo
16 Tô a Toa

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Orquestra do Maestro Oséas - Volume I



DOWNLOAD: Orquestra do Maestro Oséas - Volume I

01 Baba de Moça
02 Eu e Você
03 Envenenado
04 Show de Frevo
05 Cocada
06 A Cobra Fumando
07 Freio à Óleo
08 Frevo da Meia Noite
09 Transcendental
10 Diabo Solto
11 Pilão Deitado
12 John Travolta
13 Menino da Tarde
14 Frevioca
15 Frevo na Pracinha

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Panorama de folião: discurso e persuasão nas letras do Frevo-de-Bloco

Foto: Katarina Real



Resumo:
Este texto analisa as estratégias linguístico-discursivas desenvolvidas em letras de frevos-de-bloco, a partir da hipótese de que se trata de um gênero também caracterizado pelo discurso persuasivo, elaborado com base na lingaguem da propaganda.

Download: Panorama de folião: discurso e persuasão nas letras do Frevo-de-Bloco

domingo, 1 de janeiro de 2017

Antônio Maria: carnaval antigo...Recife



No Carnaval, minhas calças eram brancas e meus sapatos de tênis. As camisas, sempre feias, variavam. Lembro-me de uma roxa, que desbotava.

Por Antônio Maria*


No Recife, o Carnaval começava no Natal. Ou melhor, não havia Natal no Recife. A 24 de dezembro, os blocos saíam à rua, com suas orquestras de trinta a quarenta metais, seus coros de vozes sofridas, a tocar e a cantar as "jornadas" mais líricas. Chamavam-se "jornadas" alguns dos cantos carnavalescos do Recife, talvez por influência das "jornadas" dos pastoris. Agora, porque os cantos dos "pastoris" se chamavam jornadas, não sei.

Mas, na noite de 24 de dezembro, quando a gente pensava que seria uma noite silenciosa, o Vassourinhas estourava numa esquina, acordando-nos, na alma, uma alegria guerreira, impossível de explicar agora, tanto tempo e tanta fadiga são passados. Nós íamos, primeiro, às janelas, depois para a rua, até que afinal nos misturávamos ao povo, onde cada rei fantasiado, cada rainha de cetim, eram reis de verdade. Mas, reis de quê? De tudo. Da voluntariedade, do absolutismo, do amor e do futuro. O futuro de quem faziam parte.

Não se pode fazer ideia do que era o povo do Recife, solto nas ruas do Recife, após a declaração irreversível do Carnaval. Faziam parte da corte imperial mulheres morenas, que suavam, em bolinhas, na boca e no nariz. Mulheres de olhos ansiosos, presas de todos os atavismos de religião e de dor, a dançar a mais verdadeira de todas as danças – o frevo. Ah, de nada serviam suas heranças de submissão, porque o despontar do Carnaval era um grito de alforria. E seus corpos, seus braços, seus pés, teriam sido repentinamente descobertos, assim que os clarins do Batutas de São José romperam o silêncio a que os humildes eram obrigados. Tão louca e tão bela, aquela dança! Uma verdade maior que as verdades ditas ou escritas saía dos seus quadris, até então bem-comportados.

Se fosse possível descrever, em palavras, a introdução, ao menos a introdução, da marcha do clube das Pás! Mas é possível dar uma ideia do que se passava por dentro de mim, que me sentia, inopinadamente, órfão e livre, desapegado de tudo e de todos. Eu era mais que um guerreiro. Era o vento. Cada homem e cada mulher eram uma parte daquele furacão libertário. Todos se emancipavam (eu digo por mim) e se tornavam magnificamente dissolutos... porque o clarim estava tocando, porque os estandartes se equilibravam no espaço, porque o mundo, naquele exato e breve momento era, afinal, de todos.

Tudo deve estar mudado. O Carnaval do Recife talvez não seja, hoje, um desabafo. Talvez não contenha aquele desafio de homens e mulheres, livres de todas as sujeições e esquecidos de Deus. É possível que se tenha transformado numa festa, simplesmente. Talvez seja alegre e isto é sadio. Mas os meus carnavais eram revoltados. Não tenho a menor dúvida de que aquilo que fazia a beleza do carnaval pernambucano era revolta – revolta e amor – porque só de amor, e por amor, se cometem gestos de rebeldia.

Muitas vozes, de madrugada, o menino acordava com o clarim e as vozes de um bloco. Eles estavam voltando. O canto que eles entoavam se chamava "de regresso". Não sei de lembrança que me comova tão profundamente. Não sei de vontade igual a esta que estou sentindo, de ser o menino que acordava de madrugada, com as vozes de metais e as vozes humanas daquele Carnaval liricamente subversivo.

Meu quarto era de telha vã. Minhas calças, brancas. Meus sapatos, de tênis. Meu coração, inquieto. E nada tinha sido ainda explicado.


*Texto publicado em 7 de fevereiro de 1964